A construção da maternidade: a importância de se cuidar para cuidar

Por:Circuito PSI
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06

nov 2018

 

[…] Mas, na realidade, aquilo que se herda é uma dúvida básica quanto ao ser-se amado (pelas figuras de vinculação principal e posteriormente pelas  restantes) e um sentimento de falha básica que uma vida inteira não chega para colmatar – preencher -, a par de uma auto-estima muito diminuta que não alimenta um sujeito afetivamente já esfomeado (Alarcão, 2000, p. 289).  

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A maternidade, ainda nos tempos atuais é tida como algo sagrado, inerente a mulher e, por isso, há uma cobrança da sociedade quanto a se ter filhos. Até pouco tempo, as mulheres pouco diziam sobre as dificuldades da maternidade: as mudanças corporais, a sobrecarga de trabalho, o constante cansaço, a dedicação exclusiva ao bebê.  

Com o advento do feminismo e o acesso à internet, hoje, apresentam-se publicações de mães que resolvem “denunciar” o lado solitário e sofrido da maternidade. E apesar de todos os avanços culturais, ainda sim, temos notícias de mães que são recriminadas socialmente por verbalizarem o quanto sofrido é ser mãe. 

A autora Elisabeth Badinter traz em seu livro Um amor conquistado: O mito do amor materno, um histórico e questões reflexivas importantes entorno da construção da maternidade. 

Ao se percorrer a história das atitudes maternas, nasce a convicção de que o instinto materno é um mito. Não encontramos nenhuma conduta universal e necessária da mãe. Ao contrário, constatamos a extrema variabilidade de seus sentimentos, segundo sua cultura, ambições ou frustrações. Como, então, não chegar a conclusão, mesmo que ela pareça cruel, de que o amor materno é apenas um sentimento e, como tal, essencialmente contingente? Esse sentimento pode existir ou não existir; ser e desaparecer. Mostra-se forte ou frágil. Preferir um filho ou entregar-se a todos. Tudo depende da mãe, de sua história e da História (Badinter, 1985, p. 365). 

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Logo, como um sentimento construído faz-se necessário refletir sobre os anseios, desejos, expectativas e realidade da maternidade. Como a mulher se tornou mãe? Quais suas influências familiares? Quanto de apoio teve na gravidez? Quais foram suas dificuldades?  

Não raro ouvimos relatos de depressão pós-parto – em algum nível e não necessariamente diagnosticada, uma vez que as atenções se voltam para o bebê. Algumas mães relatam, principalmente nos primeiros meses de vida dos filhos, o quanto a adaptação foi difícil e o quanto esse tensionamento impactou na autoestima, relacionamento afetivo e na própria relação com o filho. 

A autoras Soejima e Weber descrevem categorias de abandono físico ou afetivo dos filhos quando a mulher:  aceita a impossibilidade de criar, há rejeição a ela ou a frustração de seu amor e desejo maternantes, a não disponibilidade nos cuidados ou rejeição e a o histórico de abandono e negligência intergeracionais. (2008, p. 177). 

Fato é que a maternidade é algo complexo, no qual as futuras mães demandam e necessitam de atenção, apoio e cuidado da rede familiar e socioafetiva. Mas para além disso, faz-se necessário e principalmente, que a mulher com o desejo de maternar tenha ciência das consequências positivas e negativas deste processo bem como o que a influência neste desejo. 

Já sabemos que as nossas ações e pensamentos não são somente nossos, ou seja, que há interferências deste a nossa constituição e que precisamos rever a todo momento nossas expectativas e anseios, principalmente quando há conflitos entre o que recebemos e o que desejamos transmitir. É importante marcar que a terapia é um lugar impar para o autoconhecimento, para estarmos mais congruentes com nossa história e sentimentos, consequentemente, atravessando os processos com mais tranquilidade e fazendo a nossa transmissão de maneira mais saudável. 

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ALARCÃO, Madalena. Família com P.I. violento e violência intrafamiliar. In.: ALARCÃO, Madalena. (Des) Equilíbrios familiares: uma visão sistêmica. Coimbra- Portugal: Editora Quarteto. Jan.2000, Capítulo 3, p. 287-314. 

BADINTER, Elisabeth. Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. 370p. 

CRUZ, Cynthia Mara de Melo. Bem me quer… mal me quer… : compreendendo o abandono materno de crianças e adolescentes em medida protetiva de acolhimento institucional. Belo Horizonte, 2013. 32f. Orientador: Vicente de Paulo Almeida. Monografia (Especialização) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Psicoterapia de Família e Casal. 

SOEJIMA, Carolina Santos; WEBER, Lidia Natalia Dobrianskyj. O que leva uma mãe a abandonar um filho? Disponível em: <www.nac.ufpr.br/artigos_do_site/2008_O_que_leva_uma_mae_a_abandonar_um_filho.pdf>. Acesso em: 01 maio 2012. 

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