TDAH ou o corpo que fala?

Por:Circuito PSI
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02

ago 2017

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Vitor tem 6 anos e está agitado na escola. Ele não presta atenção nas aulas, atrapalha os outros e não consegue se concentrar. A mãe é chamada pela coordenação que solicita uma avaliação clínica pormenorizada da criança. O médico, então, conclui que se trata de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Prescreve ritalina. Depois de algumas semanas, a escola comunica a mãe que Vitor tem apresentado melhoria nas atividades pedagógicas, assim como redução da agitação. Mesmo assim, a mãe percebe algo errado com o filho em casa: Vitor tem ficado triste e choroso e não tem apresentado a mesma vitalidade de antes.

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Para o DSM V (2014), TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento e se caracteriza por apresentar sintomas, tais como: desatenção, desorganização, hiperatividade – impulsividade. Tais sintomas podem causar prejuízos na vida pessoal, social, acadêmica e profissional; e perdurar por toda a vida, se não tratado. O medicamento utilizado mais comum é a ritalina.

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Incomodada com a situação, a mãe decide procurar um terapeuta. A partir de um estudo mais detalhado, descobre-se que os pais de Vitor são separados há aproximadamente 1 ano. A relação do casal nunca foi boa e, em alguns momentos, Vitor chegou a presenciar agressões físicas e verbais. Por conta da separação, o filho mora com a mãe e tem pouco contato com o pai, que casou de novo e teve outro filho. Como se não bastasse, Vitor se sente culpado pela separação e luta para corresponder às expectativas da mãe, que tem diagnóstico de depressão. Por último, Vitor sofre bullying na escola e é chamado de “desligado“ pelos colegas.

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Ao tratarmos a história pelo todo, podemos identificar motivos suficientes que podem ter levado a criança a agitação na escola: separações, brigas, sentimento de culpa, saudade do pai, preocupação com a mãe, ciúme do irmãozinho e tristeza com os amigos que fazem bullying. Podemos compreender ainda que o sintoma é uma resposta, dada pelo corpo, aos acontecimentos recentes. E isto não pode ser calado, precisa ser compreendido. Tem que fazer sentido! A intervenção medicamentosa é precipitada, uma vez que o quadro sugere os sintomas relatados. Os resultados na escola não podem mascarar o que de fato há, por detrás, dos acontecimentos. Não queremos dizer que a atitude do médico foi errada. Apenas que foi precipitada, de rápida resolução. Nem tampouco queremos apresentar a psicologia como prática de saúde salvadora e que as outras não possuem importância. Longe disso! Mas tratou-se do sintoma e, só do sintoma. Deixou-se de fora o contexto que precisa ser escutado. Do que a criança fala e porquê? A ritalina é uma intervenção química e como a maioria delas produz efeitos colaterais tanto no corpo como também no humor. A criança precisa ser ouvida e compreendida. E sua história precisa fazer sentido. Para ela, principalmente!

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