Por:Circuito PSI
Novidades
jun 2018
Autora: Alice Ap. Pacheco Cordeiro.
Há quem diga que para soltar pipas tem que haver céu limpo e, principalmente, ventos propícios. Bem, nem sempre …
O nosso cotidiano é marcado pelas constantes exigências por resultados excelentes, produtividade, agilidade, e por aí vai. O ritmo de trabalho e os afazeres nos tomam tempo, disposição e, se não estamos atentos, nos roubam de nós mesmos.
Heidegger (1889 – 1976) filósofo alemão que investiu no estudo e compreensão do ser humano – considera o homem como um ser-aí, um ser de potencialidades que, ao longo da sua existência e conforme as relações que estabelece com os outros e com mundo, vão se consumando. O homem está em constante relação com o mundo, sendo este tudo o mais que o cerca. Ele, lançado no mundo, projeta-se sobre as possibilidades que se apresentam. No projetar-se também é um ser-com, um ser-com as outras pessoas, com o seu contexto social e histórico.
A relação estabelecida entre o ser-aí e o mundo é de tal forma que um não existe sem o outro. Somos então, seres de possibilidades, e nos constituímos nas relações que estabelecemos com o mundo a nossa volta. Para tanto, utilizamos da liberdade para fazer as escolhas em nossa vida e nos tornamos responsáveis por cada uma delas. As escolhas são feitas com base no sentido que atribuímos ao que está a nossa frente.
A cada um de nós recai a responsabilidade da própria existência, assim, existir pertence a cada um que se constitui perante o mundo, sendo uma experiência pessoal e intransponível. Tal ponto nos coloca diante de duas possibilidades de existência: a autêntica e a inautêntica. Na primeira experiência, as escolhas são condizentes com o que é mais próprio do ser que escolhe, tendo como base a coerência entre suas ações, emoções e pensamentos. Nessa perspectiva, o ser-aí compreende sua capacidade de assumir o controle sobre seu destino dando à sua existência o sentido que lhe é mais próprio, genuíno. Já na existência inautêntica, o ser-aí é guiado pela superficialidade e banalidade do cotidiano, perdendo de si mesmo e deixando de responsabilizar-se por si mesmo e realizar-se verdadeiramente.
Somos os únicos seres capazes de compreender a existência, a nós mesmos e o mundo. Deste modo, torna imprescindível darmos sentido a nossa existência. Sentido este que é desvelado e compreendido a medida que nos voltamos para nós mesmos na busca do que é singular, autêntico e genuíno. O processo psicoterápico tem como uma das possibilidades oferecer àquele (a) que busca a psicoterapia, a oportunidade de se descobrir, se cuidar, se conectar a si mesmo, buscando a expressão de sua autenticidade.
Somente quando compreendemos e acolhemos a nós mesmos, somos capazes de nos apropriar de nossa vida e construir uma história própria. Estar em harmonia com nossa singularidade nos permite encontrar meios de dar um colorido à vida, de soltar pipas, mesmo nas adversidades que a vida nos impõe.
Referências:
CARDOSO, Cláudia Lins. A face existencial da Gestalt-terapia. In: FRAZÃO, Lilian Meyer; FUKUMITSU, Karina Okajima (orgs). Gestalt-terapia: fundamentos epistemológicos e influências filosóficas. São Paulo. Summus, 2013.
CONSONNI, Hélia Regina Caixeta. Ser-para-a-morte é Ser em vida. Artigo publicado em 02.09.2014. < http://www.psicoexistencial.com.br/ser-para-a-morte-e-ser-em-vida/> Acesso em 12.05.18