Você já se sentiu exausto(a) mesmo após um fim de semana de descanso?
Já teve a sensação de estar sempre ‘ligado(a)’, como se desligar fosse um risco para sua carreira?
Já sentiu que não podia errar, pedir ajuda ou dizer que estava sobrecarregado(a) no trabalho?
Essas são questões que muitos profissionais evitam responder sinceramente por receio das consequências. Infelizmente, esse silêncio é um terreno fértil para o desenvolvimento da síndrome de burnout, uma condição que ultrapassa os limites da fadiga e se relaciona diretamente com a falta de segurança psicológica nas organizações.
Burnout: além do cansaço físico
Reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um fenômeno ocupacional, o burnout é definido como uma síndrome resultante de estresse crônico no trabalho que não foi administrado com sucesso. Caracteriza-se por três dimensões principais: exaustão emocional, cinismo ou despersonalização, e redução da eficácia profissional (World Health Organization, 2019).
Contudo, mais do que o volume de tarefas ou as longas jornadas, o burnout está profundamente ligado à qualidade das relações no ambiente de trabalho. Como afirma Christina Maslach, uma das principais pesquisadoras do tema, “não é a pessoa que está quebrada, mas o ambiente onde ela trabalha” (Maslach & Leiter, 2017, p. 98).
Segurança psicológica: uma proteção invisível, mas essencial
Segurança psicológica é o termo usado para descrever a percepção de que o ambiente é seguro para assumir riscos interpessoais — como fazer perguntas, admitir erros ou pedir ajuda — sem medo de punição ou humilhação. A pesquisadora Amy Edmondson (2019), que popularizou o conceito, define segurança psicológica como “a crença de que você não será envergonhado ou punido por se manifestar com ideias, perguntas, preocupações ou erros”.
Ambientes onde essa segurança está presente são mais inovadores, colaborativos e resilientes. O famoso estudo ‘Projeto Aristóteles’ do Google, por exemplo, concluiu que o fator mais determinante para o sucesso das equipes era exatamente esse: a segurança psicológica (Rozovsky, 2015). Sem ela, o silêncio se instala — e com ele, o adoecimento.
A relação direta entre insegurança e adoecimento
Em culturas organizacionais que valorizam apenas desempenho e produtividade, a vulnerabilidade é vista como fraqueza. Nesse contexto, profissionais deixam de relatar sintomas de esgotamento, evitam pedir suporte e internalizam a pressão. Isso intensifica o desgaste emocional e acelera o surgimento de transtornos mentais ocupacionais.
Além disso, líderes que não sabem acolher falhas ou promover conversas honestas contribuem para um ambiente opressivo, ainda que de forma não intencional. Como adverte a própria Edmondson (2019), “sem segurança psicológica, as pessoas se protegem ficando em silêncio — o que pode ser mais perigoso para a organização do que o próprio erro”.
Conclusão
Combater o burnout exige mais do que iniciativas pontuais como pausas ativas ou programas de bem-estar. É preciso transformar a cultura organizacional, promovendo ambientes onde seja possível ser humano — com suas limitações, dúvidas e emoções. A segurança psicológica não é um benefício, mas uma estrutura essencial para a saúde coletiva nas empresas.
Referências
Edmondson, A. C. (2019). The Fearless Organization: Creating Psychological Safety in the Workplace for Learning, Innovation, and Growth. Wiley.
Maslach, C., & Leiter, M. P. (2017). The Truth About Burnout: How Organizations Cause Personal Stress and What to Do About It. Jossey-Bass.
Rozovsky, J. (2015). The five keys to a successful Google team. Re:Work. Estudo do Google revela os segredos do bom trabalho em equipe
World Health Organization (2019). Burn-out an “occupational phenomenon”: International Classification of Diseases. https://www.who.int/mental_health/evidence/burn-out/en/